quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Sobre escrever

"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando"...
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador."

Clarice Lispector

segunda-feira, 16 de março de 2009

Dedicado a todos os “emocionados” do carnaval




Adoro viajar, é uma das minhas maiores paixões, sobretudo com amigos, ou amigos de amigos. Assim foi o meu carnaval, com “emoções” de todos os tipos.
Gosto do prazer que algumas “viagens” me trás, dos momentos únicos e inesquecíveis, aquelas situações vis, pequenas e raras.
E assim foi:
Uma amiga “emocionada” é igual a um amigo bravo, que é igual a briga de namorados.
Amigos que viajam juntos são iguais a amigos que curtem a mesma “viajem”...
Que são iguais a drink’s de picolé e pinga, que são iguais a vinho, a cerveja, que são iguais a dor de cabeça e amnésia repentina, que são iguais a piscina, barulho de chuva, areia nos pés e picada de mosquito.
Longe de casa diante do mar enxergamos as coisas e as pessoas de uma outra forma.
Podemos esquecer algo que vimos, ou ver e sentir algumas coisas pela primeira vez.
Ficamos mais passivos a olhar nos olhos, mais vulneráveis...
Alguns dias longe de casa podem despertar emoções perigosas, desconhecidas que voltam escondidas em meio às malas e as lembranças.
Tive vontade de ir, de vir, de rir, chorar, dormir, comer, escrever e de ter asas...
Voar para longe... Pra onde o vento me levasse.
Por um momento desejei estar na minha cama encolhida e protegida de mim, em outro desejei que a viagem tardasse a ter um fim.
Mas o fim chegou, acompanhado de um até logo. E o que fica na memória são os lanços invisíveis que havia, as cores, figuras, os sorrisos, e o afeto em frente ao mar...

Resenha do livro-A Arte de fazer um Jornal Diário





A leitura de “A Arte de fazer um Jornal Diário” é indispensável a qualquer estudante de jornalismo, o livro é daqueles que temos que manter sempre por perto para consultar no caso de qualquer “eventualidade”.
O jornalista Ricardo Noblat consegue manter durante todo o livro uma linguagem clara, simples e concisa, com uma certa dose de bom humor o que torna a leitura extremamente fácil e prazerosa.
O autor começa o livro, dando um panorama sobre o atual momento do jornal impresso, com estatísticas quanto ao número de vendas, anúncios e o quanto a Internet tem “tomado” o espaço dos jornais.
O livro aborda temas como valores jornalísticos, ensina a como capturar e farejar fatos, a melhor forma de se fazer uma entrevista, estabelecer contato com fontes e com o público em geral. O autor revela os riscos da profissão, riscos com o ego, com as matérias mal feitas, mal escritas, sempre com exemplos e comentários pessoais entre os textos, o que o torna mais atraente e de fácil compreensão.
Um dos pontos autos do livro é quando o autor fala sobre a reportagem escrita sobre Frei Damião de Bozzano, a primeira em 1974 que fala sobre do frade que atraía multidões de fiéis no Nordeste do Brasil e a segunda em 1997 que descreve o primeiro dia do velório do frade. O autor destaca também a saga do jornal Correio Braziliense ao passar por sua bem sucedida reforma editorial no ano de 2000.
O livro é sem dúvida um manual prático a ser apreciado e se possível decorado por todos os apaixonados pela arte de informar.
Termino com um trecho tirado do início do livro, onde o autor Gabriel Garcia Márquez comenta sobre o Alucinado ofício de ser Jornalista.”“.


“Pois o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e torná-lo humano por uma confrontação descarnada com a realidade. Ninguém que não a atenha sofrido pode imaginar essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida. Ninguém que não a tenha vivido pode conceber, sequer, o que é essa palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo das primícias, a demolição moral do fracasso. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderá persistir num ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra se acaba depois de Ada notícia como se fora para sempre, mas que não permite em instante de paz enquanto não se recomeça com mais ardor do que nunca no minuto seguinte”.

É hora de botar ordem na casa




Segundo pesquisa Ibope realizada no dia 03 de outubro de 2007, só na cidade de São Paulo 12% dos homens moram sozinhos.
Uma porcentagem crescente nos dias de hoje se considerarmos o número de casamentos desfeitos.
Entrevistei um deles, que prefere dividir deu apartamento com a empregada e cachorro, acompanhei sua rotina e descobri coisas bem interessantes.
Ao chegar ao apartamento do meu entrevistado, já pude notar algumas peculiaridades. Fui recebida por D. Dália, uma senhorinha super agradável. Mas que já estava de saída. É mãe de Elenilton Cavalcanti, 33 anos, professor de Inglês, que mora em apartamento na região Sul da cidade de São Paulo. Enquanto meu entrevistado estava no banho, ela me revelou algumas coisas.
Elenilton resolveu morar sozinho á quatro anos. Á princípio ela não gostou muita da idéia, mas acabou concordando, uma vez que seu filho já havia conquistado sua independência financeira e não queria mais morar com os pais. Ela nos contou que pelo menos três vezes por semana vai ao apartamento do filho recolher a roupa para lavar, passar e dar uma “limpadinha”. Mas para não invadir a privacidade do filho, sempre liga antes para saber se não há ninguém no apartamento e não possui cópia das chaves. O filho tem uma empregada que vaio ao apartamento pelo menos duas vezes por semana, mas D. Dália afirma que mesmo com empregada não vai abrir mão de seu “menininho”.
Estávamos sentadas no sofá, tomando um café, quando meu entrevistado chegou muito simpático, pediu licença a sua mãe e brincou dizendo que a entrevista seria com ele. D. Dali então se despediu e foi ao supermercado, pois segundo ela a geladeira de seu filho estava sem nenhuma fruta.
Perguntei a Elenilton como se sentia com a presença constante de sua mãe em sua casa, uma vez que não moravam mais debaixo do mesmo teto. Ele me respondeu que no início fora difícil, pois sua mãe não aceitava muito bem a idéia e queria dar palpite em tudo desde o que ele comia, até o tipo de mulher que ele levava ao apartamento.Com o tempo as coisas foram melhorando, hoje ele vê que essa foi á forma que sua mãe encontrou de ficar mais próxima a ele.
Perguntei de sua rotina, se ele não pretendia se casar e como administrava sua convivência com a mãe, a empregada e Cocki, um cachorro da raça labrador que ganhou de um amigo há um ano com o argumento de que precisava de uma boa companhia nos dias chuva.
Elenilton me contou que decidira morar sozinho, pois segundo ele já estava na hora de assumir novas responsabilidades e pagar suas próprias contas. Disse que não se arrepende de ter tomado essa decisão, que já não sabe se conseguirá se acostumar com as manias de outra pessoa, caso venha a se casar um dia.
Quanto à solidão segundo ele, não existe, pois sua casa é um reduto constante de amigo e “boas companhias”.


Edmaura


(Entrevista sobre a vida de homens que moram sozinhos)

120 anos de abolição














120 anos de abolição... Será?

Será que abolimos de nossos corações todas as marcas deixadas por um passado triste e desumano? Será que já não se pode mais ouvir o gemido do negro no poste do martírio? Será que é bom esquecer, quando se esquece de um erro nos tornamos passivos a cometê-lo novamente e talvez seja esse o esquecimento que leva algumas pessoas a cometerem atos racistas até os dias de hoje. O que nos torna único, são as nossas diferenças e a pigmentação da pele é ínfimo perto do que um negro representa. Negro é história, é balanço, é alegria, é brilho no olhar, negro foi quem dançou envolta de suas fogueiras longe das luzes dos brancos pra não morrer de tristeza, negro foi quem cantou, quem lutou, quem ensinou, negro foi quem tocou o ritmo cadenciado de seus tambores com alegria mesmo tendo que servir até a morte.
120 anos se passaram, mas ainda hoje se faz necessário reconhecermos e reverenciarmos toda a raça, a força, a história de um povo soberano, que transformou toda a sua dor e sofrimento em cânticos que foram entoados dias e noites suplicando por sua liberdade...

(Texto publicado no site as 120 cartas)


Edmaura

Momento sociopata.

Já tenho muitas coisas na cabeça, é incrível pensar nas coisas que tenho que ver quando saio à rua.
Dia difícil segunda-feira chuvosa, modorrenta, metrô lotado, cheguei atrasada ao trabalho, chefe de cara feia, problemas meus e dos outros. Voltando para a casa vejo um policial prendendo um menor na calçada, diante dos meus olhos e dos outros eles são invisíveis, a indiferença costuma ter esse poder.
Mas que se dane!
Se está sendo preso é por que merece, deve ter feito o que não presta, menos um, já fico a mercê de tantos no meu dia a dia.
Que prendam todos, é uma pena que logo vai estar á solta com uma qualificação maior para o crime. Estou cansada dessa mesmice, roubam, matam, ofendem e lá vem os direitos humanos defender, o governo dar bolsa alguma coisa.
E quem acorda ás 04hs00 da manhã para ganhar um salário miserável, come comida requentada, vê seus filhos passarem necessidade e ainda financiam o vício alheio, como é que fica?
E ainda sou obrigada a aturar a hipocrisia alheia “coitado”, “é apenas uma criança”, “é um filho do Senhor”.
Em algum momento todos pensam como eu estou pensando agora, seja por ter tido um dia difícil, por ter brigado com o namorado, por ter sido roubado, ou sei lá o quê.
Deixe um serumano no seu limite e ele será capaz de exigir o extermínio de metade da humanidade.
Céus!
Perdão...
Dia difícil... Eu só preciso de um bom banho, da minha cama quente, da minha dose diária de alienação e inconformismo e amanhã ao acordar prometo voltar a pensar e sentir como uma mortal.


Edmaura

sábado, 14 de março de 2009

Uma das coisas mais lindas que já li


O Haver
(Vinicius de Moraes)

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura.
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo:
— Perdoai! — eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do infinito
Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia de simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano, ou essa súbita alegria
Ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa piedade de sua inútil poesia e sua força inútil.
Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa tola capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem de comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo esse desejo de servir, essa contemporâneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
E transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
Na busca desesperada de alguma porta quem sabe inexistente
E essa coragem indizível diante do grande medo
E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do próprio reino.
Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio
Pelo momento a vir, quando, emocionada
Ela virá me abrir a porta como uma velha amante
Sem saber que é a minha mais nova namorada.