sábado, 14 de março de 2009

Baseado em fatos reais


Um bom vinho...

Sem taças, somente a garrafa, uma noite fria de inverno, banhada por uma lua cheia que as nuvens ameaçam esconder, areia, pés descalços, meu corpo aninhado sobre um cobertor quente, devaneios, ócio, silêncio, desejos, a água fria do mar...
Sei por que as gotas de água arrepiam os pêlos do meu corpo quando tocam a minha pele.
Pensamentos que divagam, uma noite que como tantas outras não vai me trazer novidades, nem fortunas maiores. Penso em tudo e ao mesmo tempo em nada, em todos e ao mesmo tempo em ninguém, um siri se aproxima pra me fazer companhia, já não me sinto tão só...
A cada gole percebo que talvez o vinho não seja tão bom, já que a minha cabeça insiste em girar ao acompanhar o vai e vem das ondas, o barulho do mar está se tornando cada vez mais alto, a garrafa já está pela metade, e o siri continua ao meu lado, também olhando para imensidão negra que tínhamos a frente.
Me pego a pensar se estou sendo tão boa companhia pra ele, quanto ele pra mim, mais um gole, desta vez sinto algumas gotas de vinho passearem pelo meu pescoço, já não sei mais o que me causa arrepio.
E seguimos noite adentro, o mar, o vinho, o siri e eu. Sou acordada pelo sopro do vento em meu ouvido, abro os olhos com dificuldade, já que para pessoas como eu o dia costuma ser menos acolhedor que a noite. A lua já começa a dar lugar ao sol, meu corpo está coberto por areia, tomo um último gole de vinho que ainda resta na garrafa, o gosto não é dos melhores, mas acredito ainda ser melhor que a água salgada do mar. Pensamentos confusos, a minha cabeça continua a girar, mas desta vez acompanhada de uma dor que se não cessar rápido me fará enlouquecer. Olho para o horizonte e me dou conta de que não existem poetas do amanhecer, talvez por que fazer poesia naquelas condições fosse impossível. Tento me recuperar, juntar os meus restos e seguir meu rumo, voltar, viver o dia e esperar ansiosamente pelo cair de mais uma noite solitária. Mas ao olhar para o lado, me deparo com talvez a melhor companhia que já tive, lá estava ele fiel ao meu lado, velando a minha noite e o meu amanhecer. Me levanto e me despeço dele (até o nosso próximo encontro) ele segue rumo ao mar, talvez para também enfrentar a sua sina diária, até o cair da próxima lua...
Edmaura




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